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Livros ( crônica)
Livros ( crônica)

           

 

        Cada semana, uma novidade.
         A última foi que pizza previne câncer do esôfago.
         Acho a maior graça.
         Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas peraí, não exagere...
         Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
         Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
         Prazer faz muito bem.
         Dormir me deixa 0 km.
         Ler um bom livro faz eu me sentir novo em folha.
         Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois eu rejuvenesço uns cinco anos.
         Viagens aéreas não me incham as pernas, me incham o cérebro, volto cheio de idéias.
         Brigar me provoca arritmia cardíaca.
         Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago.
         Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
         E telejornais os médicos deveriam proibir - como doem!
         Essa história de que sexo faz bem pra pele acho que é conversa, mas      mal tenho certeza de que não faz, então, pode-se abusar.
         Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo faz muito bem: você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
         Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde.
         E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda.
         Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou muzzarela que previna.
         Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, UAU!
         Cinema é melhor pra saúde do que pipoca.
         Beijar é melhor do que fumar.
         Exercício é melhor do que cirurgia.
         Humor é melhor do que rancor.
         Amigos são melhores do que gente influente.
         Pergunta é melhor do que dúvida.
         Tomo pouca água, bebo mais que um cálice de vinho por dia, faz dois meses que não piso na academia, mas tenho dormido bem, trabalhado bastante, encontrado meus amigos, ido ao cinema e confiado que tudo isso pode me levar a uma idade avançada.
         Sonhar é melhor do que nada.

 

 

 

 

                        2. O amendoim e a fábula - CARLOS HEITOR CONY


        VEIO DE longe para tentar a vida no Rio. Queria ser escritor. Até a idade de oito anos vendera amendoim torradinho.

        Entre o amendoim torradinho e a glória, o caminho era duro, mas ele seria forte. O físico não ajudava: pequenino, magrinho, nervoso. Tipo ideal para extrema esquerda do Olaria.
        Sabia escrever e escrevia bem. Não tinha cultura, mas ninguém precisa ter cultura para escrever. Cultura até atrapalha.

        Amor também atrapalha. E começou a amar e a ficar atrapalhado. Quando levou o primeiro fora respeitável, deixou crescer a barba em sinal de protesto ou de dor. Protesto um tanto lírico, dor um tanto velhaca, mas a cara adquiriu aspectos sombrios, parecia efígie de selo belga.

        Murmuram as línguas informadas que nunca esqueceu esse primeiro amor. Se não esqueceu, pelo menos não abriu as veias: enfrentou novamente a vida e o amor, e foi amando e escrevendo para os jornais. Mas, ao fim da noite, quando se olhava no espelho, ele sabia que amara e fora traído, sofrera e gozara apenas para esquecer a primeira.
Saía então para beber. Bebia e perdia o emprego. Mudou de jornal, em um ano percorreu todas as redações do Rio e todos os bairros onde houvesse mulher digna de seu amor e de sua dor. Ameaçava escrever um romance quando os amigos diziam que ele estava se perdendo.

        Até que um dia correu a notícia: fugira com uma mulher casada para Brasília, num Volkswagen. A notícia tinha metade digna de crédito: a fuga com a mulher casada. A metade inverossímil era o Volkswagen -os tempos andavam magros, e ele não tinha dinheiro nem para o bonde.

        Mas o carro podia ser da mulher, e aí a fuga faria sentido. Não fez sentido foi a semana seguinte. Voltaram os dois de Brasília, ele e ela, sem Volkswagen mesmo. O marido perdoou a esposa prevaricadora, e a esposa, livre da prevaricação, tomou fobia pela cara do ex-amante, e o ex-amante tomou pifões em diversos bares e escreveu cartas que os suplementos literários publicavam.

        Recusou oferta de um emprego em Brasília. Volta e meia os governantes querem prestigiar a classe e convidam tudo quanto é intelectual para os gabinetes. Em uma dessas ondas, veio o convite e seguiu a recusa:

        -Vim ser escritor no Rio, e não funcionário em Brasília!

        Atitude e a frase eram dignas de figurar na Enciclopédia Britânica, e, por causa disso, pediu R$ 500 ao amigo: estava na negra. Precisava encher a cara, uma infiel de Ipanema. Dera-lhe sopa no teatro e bolo no dia seguinte.

        -Como pode, hein?

        -Mulher é assim mesmo.

        -Mas elas mudam tanto!

        -Isso já está em ópera.

        Não foi beber com os R$ 500. Foi é enfrentar um macarrão com bastante queijo, matar a fome de dois ou três dias.

        E, dois ou três dias depois, ameaçou suicídio. Uma mulata fatal, de olhos enormes, carnuda. Tomou enorme pifão e tentou a morte: pulou da janela.
Mas não morreu nem se feriu: dois meses atrás morava num oitavo andar, agora morava no chão -a altura da janela não deu nem para curar a bebedeira.

        Agora sim, iria escrever um romance. Todo mundo acreditou no romance, inclusive ele.

        Comprou resmas de papel, máquina portátil, fez um esboço que chegou a publicar. O livro passou a ser citado. Duas ou três passagens conhecidas de relato oral foram incorporadas definitivamente aos melhores momentos da ficção nacional.

        Raspou e deixou crescer a barba inúmeras vezes, amou e foi traído, pulou janelas e empregos, foi envelhecendo e perdendo a pinta de menino prodígio, os olhos ficavam baços atrás das lentes cada vez mais grossas.

Pelas madrugadas da cidade, é agora um vulto que passa sempre às mesmas horas e nos mesmos lugares, procurando público e amor. Qualquer um dos dois serve: tanto o amigo que ouvirá mais um trecho do romance que ainda não escreveu como a moça que lhe despertará paixão, ciúmes, novas e sofridas epístolas.

        Some pela rua escura. O passo é nervoso, ligeiro. Tem ainda a agilidade do vendedor de amendoim. E o cansaço do homem grande que o vai envolvendo em silêncio e tornando cada vez mais obstinada a vontade de ser feliz.

 

 

 

 

                        3.  A última crônica - Fernando Sabino


        A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

        A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

        Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

        Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

        A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

        São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

        Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

 

 

 

 

 

4. O lixo  -    Luis Fernando Veríssimo.

 

 

 

         Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

 

 

 

         - Bom dia...

 

 

 

         - Bom dia.

 

 

 

         - A senhora é do 610.

 

 

 

         - E o senhor do 612

 

 

 

         - É.

 

 

 

         - Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

 

 

 

         - Pois é...

 

 

 

         - Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...

 

 

 

         - O meu quê?

 

 

 

         - O seu lixo.

 

 

 

         - Ah...

 

 

 

         - Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...

 

 

 

         - Na verdade sou só eu.

 

 

 

         - Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

 

 

 

         - É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...

 

 

 

         - Entendo.

 

 

 

         - A senhora também...

 

 

 

         - Me chame de você.

 

 

 

         - Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...

 

 

 

         - É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...

 

 

 

         - A senhora... Você não tem família?

 

 

 

         - Tenho, mas não aqui.

 

 

 

         - No Espírito Santo.

 

 

 

         - Como é que você sabe?

 

 

 

         - Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

 

 

 

         - É. Mamãe escreve todas as semanas.

 

 

 

         - Ela é professora?

 

 

 

         - Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?

 

 

 

         - Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

 

 

 

         - O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

 

 

 

         - Pois é...

 

 

 

         - No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.

 

 

 

         - É.

 

 

 

         - Más notícias?

 

 

 

         - Meu pai. Morreu.

 

 

 

         - Sinto muito.

 

 

 

         - Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

 

 

 

         - Foi por isso que você recomeçou a fumar?

 

 

 

         - Como é que você sabe?

 

 

 

         - De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

 

 

 

         - É verdade. Mas consegui parar outra vez.

 

 

 

         - Eu, graças a Deus, nunca fumei.

 

 

 

         - Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...

 

 

 

         - Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.

 

 

 

         - Você brigou com o namorado, certo?

 

 

 

         - Isso você também descobriu no lixo?

 

 

 

         - Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.

 

 

 

         - É, chorei bastante, mas já passou.

 

 

 

         - Mas hoje ainda tem uns lencinhos...

 

 

 

         - É que eu estou com um pouco de coriza.

 

 

 

         - Ah.

 

 

 

         - Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

 

 

 

         - É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

 

 

 

         - Namorada?

 

 

 

         - Não.

 

 

 

         - Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.

 

 

 

         - Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

 

 

 

         - Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

 

 

 

         - Você já está analisando o meu lixo!

 

 

 

         - Não posso negar que o seu lixo me interessou.

 

 

 

         - Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.

 

 

 

         - Não! Você viu meus poemas?

 

 

 

         - Vi e gostei muito.

 

 

 

         - Mas são muito ruins!

 

 

 

         - Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

 

 

 

         - Se eu soubesse que você ia ler...

 

 

 

         - Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

 

 

 

         - Acho que não. Lixo é domínio público.

 

 

 

         - Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

 

 

 

         - Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

 

 

 

         - Ontem, no seu lixo...

 

 

 

         - O quê?

 

 

 

         - Me enganei, ou eram cascas de camarão?

 

 

 

         - Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

 

 

 

         - Eu adoro camarão.

 

 

 

         - Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...

 

 

 

         - Jantar juntos?

 

 

 

         - É.

 

 

 

         - Não quero dar trabalho.

 

 

 

         - Trabalho nenhum.

 

 

 

         - Vai sujar a sua cozinha?

 

 

 

         - Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

 

 

 

         - No seu lixo ou no meu?

 

 

 

 

 


5. O Homem que Vivia Anedotas - Luís Fernando Veríssimo.

 

 

 

        — Sempre deu tudo errado comigo. Desde criança.

 

 

 

        — Compreendo.

 

 

 

        — Na escola, não conseguia prestar atenção em nada.

 

 

 

         Estava sempre pensando em mulher nua.

 

 

 

        — Espera aí. Você é…

 

 

 

        — Sou. O Juquinha. Todo mundo ficou sabendo das minhas histórias, virei anedota.

 

 

 

        — Mas as histórias até que eram engraçadas.

 

 

 

        — Engraçadas para quem não foi expulso da escola, como eu.

 

 

 

         Meus pais me mandaram a um médico para curar minha obsessão. Um psiquiatra.

 

 

 

        — Não foi esse o médico que...

 

 

 

        — É. Começou a me mostrar desenhos. Uma cadeira.

 

 

 

         Um chapéu. Um telefone. Pediu para eu me concentrar.

 

 

 

        — E aí você disse…

 

 

 

        — Eu disse: "Me concentrar como, se o senhor não pára de mostrar figurinha erótica?".

 

 

 

         O senhor está rindo porque não foi com o senhor. Fiquei anos em tratamento.

 

 

 

        — Desculpa. Eu não estava rindo de você. Continue.

 

 

 

        — Como não tinha educação, fui ser mecânico. Não deu certo.

 

 

 

        — Por quê?

 

 

 

        — Sabe aquela história do cara que acendeu um fósforo dentro do tanque do carro para ver se tinha gasolina, e tinha?

 

 

 

        — Foi você?

 

 

 

        — Foi. No hospital, tiveram que me reconstituir.

 

 

 

         Pegaram as partes e juntaram de novo. Tudo bem, só que…

 

 

 

        — Só que para ouvir direito, você precisava levantar o braço! Essa é ótima.

 

 

 

        — Ótima porque não foi com o senhor.

 

 

 

        — Desculpe. Foi horrível.

 

 

 

        — Quando saí do hospital comprei uma motocicleta.

 

 

 

         Uma noite na estrada, vi os holofotes de duas motocicletas que vinham em sentido contrário. Só por farra, resolvi passar com a minha entre as duas.

 

 

 

        — E era um automóvel. Essa eu conheço.

 

 

 

        — Voltei para o hospital. Tiraram radiografias. Eu estava péssimo.

 

 

 

         Quando o médico disse quanto ia custar o tratamento, eu disse que não podia pagar.

 

 

 

        — E ele?

 

 

 

        — Ele disse que por um preço módico mandava retocar as radiografias.

 

 

 

        — Grande! Quer dizer, horrível. E seus pais?

 

 

 

        — Está vendo esse relógio? Está na família há gerações.

 

 

 

        — É uma beleza.

 

 

 

        — No seu leito de morte, poucos minutos antes de expirar, papai me vendeu.

 

 

 

        — Boa, boa. Quer dizer, triste, triste.

 

 

 

        — Me casei. Não durou muito. Minha mulher estava convencida que era um refrigerador.

 

 

 

        — Realmente, não dava para continuar vivendo com uma louca.

 

 

 

        — O pior não era isso. O pior é que ela dormia com a boca aberta e a luz não me deixava dormir. O senhor está rindo outra vez.

 

 

 

        — Não posso me conter. É que você teve uma vida engraçada.

 

 

 

        — Engraçada? Trágica. Tudo comigo deu errado. As pessoas riem de sádicas.

 

 

 

        — Você tem razão.

 

 

 

        — Para esquecer tudo, fui fazer uma viagem. Quando o avião estava a dez mil metros de altura, ouviu-se uma voz que dizia: "Isto é uma gravação. Este avião não tem piloto.

 

 

 

         É dirigido por um sistema totalmente automático que substitui com vantagem o controle humano. Não há com o que se preocupar.

 

 

 

         O sistema foi exaustivamente testado é absolutamente aprova de falhas, de falhas, de falhas…".

 

 

 

        — O avião caiu e foi assim que você veio parar aqui?

 

 

 

        — Não, São Pedro. O avião caiu no mar, eu sobrevivi e passei uma temporada numa ilha deserta com uma mulher. Só que a mulher era a Betty Friedman.

 

 

 

        — Acho que já vi esse cartum.

 

 

 

        — Pois é. Aí fui salvo e ainda passei por várias anedotas até resolver me matar.Não conseguia fazer nada certo. Só restava o suicídio. Dei um tiro na cabeça.

 

 

 

        — E aqui está você.

 

 

 

        — Não. Errei o tiro. Depois fiquei tão contente de ainda estar vivo que dei um tiro para o ar.     Aí acertei na cabeça. E aqui estou eu. Livre, finalmente, das anedotas. O senhor ainda está rindo!

 

 

 

        — Meu filho você sabe quantas anedotas de São Pedro na porta do céu existem?

 

 

 

        — Não, São Pedro. Por favor. Não!

 

 

 

        — O que é que eu posso fazer? Esta é uma delas. Houve um maremoto em Copacabana, morreu todo mundo e nós estamos com o céu lotado.

 

 

 

        — Lotado? Mas só a população de Copacabana lota o céu?

 

 

 

        — É que tinha os argentinos.

 

 

 

         Você só vai encontrar lugar no Purgatório, e na lista de espera.

 

 

 

 

       

       Obra: Dom Casmurro
     Autor: Machado de Assis                   Olhos                             

 

 

 

          O romance "Dom Casmurro" publicado em 1899, é uma das grandes obras de Machado de Assis, esta obra retrata o olhar critico que o autor tinha acerca da sociedade brasileira da época. Machado de Assis utiliza sempre o sarcasmo e a ironia, coloca com muito brilhantismo nesta obra o ciúmes e gera muitas polemicas acerca da personagem feminina Capitu.
           O romance é contado pelo autor principal, Bento Santiago, já em uma fase avançada de sua vida, (e então que lhe ocorra leitor que, o que Bento lhes conta já aconteceu, e o único ponto de vista explorado é o dele...) ele começa sua historia contando ao leitor como recebeu a alcunha de Dom Casmurro. A expressão fora inventada por um jovem poeta, que tentara ler para ele no trem alguns de seus versos, como Bento cochilara durante a leitura, o rapaz indignado começa a chamá-lo daquela forma. 
           O narrador então começa a contar sua vida, relembrando sua infância, e a isso ele chama de "atar as duas pontas da vida". O leitor é apresentado à infância de Bentinho, quando ele vivia com a família num casarão da rua de Matacavalos.



 

 

 

 

 

 Estou indicando este vídeo de crônica, por Arnaldo jabor o qual comenta sobre a educação e a política do nosso país.       

 

 

Arnaldo Jabor

Arnaldo Jabor – Nascido aos 12 de dezembro de 1940 é um cineasta, crítico e escritor brasileiro. Participou do movimento do Cinema Novo, com o documentário Opinião Pública.

Mas o contexto político da época fez com que ele modificasse sua obra comprometendo assim o entendimento e a qualidade dela. Seus filmes seguintes analisam o comportamento humano sempre com muita sátira e ironia, arcantes no seu estilo.

A partir dos anos 90 retomou sua carreira de jornalista, onde ainda hoje é comentarista de diversos jornais. Também tem vários livros publicados, sem perder o seu característico humor ácido, nem o tom crítico. Filmes: 1965 - O Circo (curta-metragem); 1967 - A Opinião Pública; 1970 - Pindorama; 1973 - Toda Nudez Será Castigada; 1975 - O Casamento; 1978 - Tudo Bem; 1980 - Eu Te Amo; 1984 - Eu Sei que Vou Te Amar; 1990 - Carnaval (curta-metragem); Livros: Os canibais estão na sala de jantar (Editora Siciliano, 1993); Sanduíches de Realidade (Editora Objetiva, 1997); A invasão das Salsichas Gigantes (Editora Objetiva, 2001); Amor É Prosa, Sexo É Poesia (Editora Objetiva, 2004); Pornopolítica, (Editora Objetiva, 2006); Eu Sei Que Vou Te Amar, (Editora Objetiva, 2007).

Disponível em: https://pensador.uol.com.br/autor/arnaldo_jabor/biografia/. Acesso em: 28/09/2014.

Pode-se notar a importância e a atualidade que se faz este vídeo. Assim, sempre devemos nos atentar às verbas públicas da educação, já que essas verbas são desviadas de várias escolas. O interesse social não abrange as necessidades políticas, porque esses politicos não utilizam o bem público, uma vez que possuem verbas ílicitas. Portanto usam e abusam de bens particulares para se satisfazerem.  E o que podemos esperar da nossa política?